Wednesday, June 23, 2010


Sendo assim, começarei contando aqui a minha ...

Nunca me imaginei morando fora do Brasil e quando dei por mim, estava casando com um americano.
Passei por todo o processo de visto de noiva, providenciando todas as informações possíveis e imagináveis e esperando infinitamente por uma noticia a respeito da entrevista. Nove meses depois de dar entrada nos papéis, praticamente um parto, recebo o tão esperado envelope com as instruções a serem rigorosamente seguidas para fazer a temida entrevista. Tinha menos de 30 dias ... Os dias que se seguiram foram de corre-corre para providenciar consultas médicas, exames e vacinas exigidas, além de documentar a veracidade do relacionamento com emails, fotos em diferentes datas, comprovantes de viagens e contas de telefone.
No dia da entrevista, já tive uma pequena mostra do que vinha pela frente ... cuidado extremo com segurança, revista, raio X, tratamento frio e de certa forma hostil por parte da atendente, avisos manter seus pertences por perto em todo canto: resultado da transformação pós 11 de Setembro.
Depois de algumas horas de espera, finalmente chegou a minha vez. Entrei na pequena sala blindada e o Consul me olhou dos pés a cabeça, me encarou por um tempo, Quebrando o Silêncio com a pergunta: "Por que você está aqui?"
Salve Simpatia !!!
Enfim, após longos 5 minutos de perguntas diretas e respostas longas, deixei a sala atônita, com o visto aprovado e uma grande questão na mente: E Agora ?
Comemorações de lado, eu não tinha a menos idéia de que o pior estava por vir ... a Despedida.
Já comecei a chorar dentro do táxi, a caminho do aeroporto ... e o marido, tentando me consolar. Consegui me controlar um pouquinho. Engoli o choro e fui fazer o embarque. Quando saímos da fila pra iniciar as despedidas, desabei. Ou melhor, desabamos todos, naquele momento tão feliz e tão sofrido ao mesmo tempo.
Embarquei chorando horrores, e chorei bastante durante o vôo ... pouco me importando com o que acontecia ao meu redor.
Só então a ficha realmente caiu: eu não estava simplesmente me casando e mudando de casa, eu estava mudando de país, deixando minha família, amigos, deixando minhas raízes pra trás. Só então percebi que qualquer problema que eu tivesse, não teria o "meu porto seguro" por perto, não teria as visitas e almoços de familía nos fins de semana, os chopinhos com a galera da faculdade, praia no fim de semana ... coisas tão pequenas, mas fundamentais na nossa vida no dia-a-dia.
Cheguamos a Nova York no dia 31 de dezembro de 2008, para o Ano Novo ...
"Que maravilha !" Você pode estar pensando ... Realmente seria, não fosse o frio de cão, que estava nos esperando.
Imagine uma Carioca da Gema, quem nunca tinha visto neve na vida, a não ser pela tv, deixando o Rio de Janeiro em pleno verão e chegando na Big Apple inimaginavelmente gelada ... imaginou ? Foi bem pior ...
Nunca usei tanta roupa ao mesmo tempo. Me sentia o próprio boneco da Michelin e tendo a sensação de que as muitas camadas de roupas ainda não eram sufucientes pra aquecer o corpo.
Mas meus 3 dias foram muito bons, revendo amigos que foram ao nosso casamento no Brasil e queriam me dar Boas Vindas. Ótimo saber que eu não era totalmente estranha nessa terra nova, pronta para ser descoberta.
A chegada a Chicago foi um capítulo a parte ... Essa sim era a grande novidade, a minha terra prometida, o meu novo lugar.
O meu marido era um misto de pura excitação e curiosidade com a minha reação ao chegar e ver com meus proprios olhos, tudo o que ele havia me descrito em nossas conversas. E claro que depois de tanto tempo e espera, uma enorme preocupação e a incrível necessidade de aprovação tomava conta dele ...
A cidade era realmente linda, lembrava o Rio em alguns aspectos e muito, mas muuuito fria no inverno.
Nossa casa era linda, num prédio vintage lindinho e super bem localizado em Downtown, próximo de tudo (farmácia, mercado, metrô, ônibus) exatamente como eu havia pedido. Sim, porque no início eu não poderia dirigir e ter tudo pertinho de casa seria essencial para uma melhor adaptação.
Passei os primeiros dias conhecendo nossa área, restaurantes ao redor, fazendo tours de carro com o James e finalmente conheci o Buddy.
Quem e' o Buddy ? O meu mais novo cachorro. Um pitbull de 9 anos que foi resgatado pelo meu marido na Sociedade Protetora dos Animais quando tinha dias de vida. Confesso que eu tinha um certo receio desse inevitável encontro, mas como diz o ditado, "o que não tem remédio ..."
A apresentação foi melhor do que eu esperava. Ele me cheirou e não me deu a menor bola. "Menos mal ..." pensei. Mas o primeiro dia em que ficamos sozinhos, foi apavorante, devo admitir. Ele me olhava e latia sem parar. Congelei. Meeeeedo !!! Ligava pro James pedindo ajuda e so' depois que meu marido me disse que ele fazia isso pra me testar, tomei a rédeas do meu medo e comecei a me impor. Dava uns gritos com ele, dava os comando com firmeza e aos poucos começamos a nos entender. Mais uma vitória !
Mas o pior de tudo era ter que encarar o frio de lascar pra levá-lo na rua 2 vezes ao dia. O recorde de frio que passei por aqui foi de - 25,5C com sensação térmica de -35C por causa do vento. Algum tempo depois, foi constatado que aquele inverno foi o pior em 36 anos. :s
Toda essa mudança foi muito radical e foi muito difícil pra mim sim. Fiquei depressiva sim, emagreci muito e encontrei na cozinha uma saída, um hobby. Comecei a cozinhar, para ocupar a mente e também por necessidade porque não me adaptei a comida daqui. E cada vez que eu fazia algo diferente e dava certo, eu postava fotos no meu orkut. Cada elogio, cada incentivo recebido me dava uma alegria enorme em saber que a familia e os amigos estavam pensando e torcendo por mim.
Aos poucos, fui conhecendo brasileiros residentes, fiz alguns bons amigos que sempre estão por perto e que fizeram com que eu me sentisse mais a vontade, mais em casa. Por outro lado, também há pessoas que não querem saber do seu problema. Mas acho que isso ocorre em qualquer lugar do mundo.
O meu primeiro e tão esperado verão daqui deixou muito a desejar, porque foi o mais frio jamais registrado. Mas consegui aproveitar, conhecendo a cidade com a ajuda dos novos amigos aqui há mais tempo e meus novos familiares que vivem aqui.
O inverno seguinte foi mais brando e bem mais fácil de encarar, até porque eu já estava bem adaptada. Até recebi visita do Brasil e encaramos a neve para passear. ;)
Uma coisa eu posso afirmar: o fato de morar fora do Brasil te faz crescer bastante como pessoa, você aprende bastante, novas línguas, novas culturas, a se adaptar. E isso é muito bom. Por outro lado, a falta dos seus (família, amigos, comida) é o obstáculo mais difícil de superar.
Eu ainda estou esperando a saída dos meus documentos oficiais daqui, e por isso ainda nao posso trabalhar. Até poderia, se topasse encarar um trabalho "ilegal" que, claro, tem suas desvantagens. Mas, graças a Deus, tenho a optar.
Quanto aos estudos, pelo que me informei, o diploma Universitário do Brasil não funciona muito, e é preciso certa paciência resolver a conciliação dos documentos. Muitas pessoas acabam mudando de ramo e trabalhando em outras atividades.
Decidi começar a estudar pra dar uma melhorada no inglês com um professor particular ...
No momento, estou muito feliz com o calor do verão, que esse ano já está bombando desde a primavera ... curtindo a Copa do Mundo com muitos amigos !!!
Espero que outras pessoas gostem do espaço e troquem suas experiências aqui.
Um abraço a todos !!!
Fernanda Evangelista.

1 comment:

  1. Parabéns Fê! Muito legal o seu blog. Deve divulgar mais.
    Beijinhos Saudosos,
    Val.

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